Reunião
Grupo de Estudos - 02 de maio de 2013
Política e Tecnologias
Apresentação: Luiza Santos e Guilherme Pereira
Relato: Aline Mello
No
dia 2 de abril, quinta-feira, a reunião de estudos do Ubitec teve como temática
“Política e Tecnologias”, com textos apresentados pelos colegas Luiza Santos e
Guilherme Pereira. A Luiza falou sobre o texto “O Linux e a Perspectiva da Dádiva”,
de Renata Apgaua. O artigo trata do sistema operacional aberto Linux, que começou
com cerca de dez pessoas e hoje é um movimento mundial. A autora trata ele a
partir da Perspectiva da Dádiva do sociólogo Maus, e afirma que fora do estado e
do mercado, a sociedade tem uma troca constante. Por isso, a sociedade contemporânea
não deve ser pensada somente sob uma perspectiva utilitarista, onde existe
equivalência nas trocas, que é a lógica do mercado.
O
Guilherme trouxe para discussão o texto “O quádruplo A”, de Dieter Rucht, parte
do livro “Cyberprotest: New media, citizens, and social movements”. O autor
traz, a partir de um recorte histórico, os protestos e sua relação com a mídia
de massa. Os movimentos sociais tem o objetivo de convencer o público, e, por
isso, os meios de massa são importantes para sua visibilidade.
A
mídia de massa precisa sobreviver, e depende da lógica do mercado, enquanto os
movimentos sociais são, em princípio, movidos por uma causa, e independentes do
lado comercial. A mídia precisa ser interessante, inovadora e rápida. E os
ativistas podem trazer materiais interessantes para a mídia, pois seus atos
envolvem emoção. Rucht observa no texto quatro estratégias dos movimentos em
relação aos meios de massa: adaptação, quando jogam o jogo da mídia e tem
cobertura favorável; ataque, quando não conseguem atrair a mídia e a criticam
explicitamente; estratégias alternativas, quando criam seu próprio veículo; e abstenção,
quando não procuram nenhum tipo de mídia. As últimas duas são independentes, já
as outras atraem de alguma forma os meios de massa.
O
autor trabalha com três movimentos sociais. O primeiro, a Nova Esquerda, surge
na França a partir de grupos de estudantes com ideologia marxista. Estes não
tinham uma relação amistosa com a mídia de massa, pois a viam como oposição, e
por isso adquirem a estratégia de ataque. Após, o movimento teve desdobramento
nos Estados Unidos, com o surgimento de publicações alternativas. À medida que
ele cresceu, a mídia passou a falar mais.
Nos
anos 70 e 80 surgem novos movimentos sociais. Eram mais numerosos e diversificados,
e geograficamente mais espalhados. Articulavam sobre temas mais próximos do
cotidiano das pessoas. Aos poucos, desenvolvem sua própria infraestrutura
midiática alternativa. Mas, num segundo momento, a mídia vai passar a ter mais
simpatia por eles, a estratégia torna-se a de adaptação.
A
partir da década de 90, surgem o que o autor chama de movimentos
transnacionais, que agem contra o neoliberalismo. Estes profissionalizaram o
envolvimento com a mídia. A internet instigou novas estratégias e agilizou a
troca de informações e a mobilização. No entanto, o autor aponta que, se as
movimentações não transcenderem o ciberespaço, não será efetivo o movimento,
pois precisa de um engajamento maior. Com o tempo, a mídia se tornou mais
aberta aos ativistas, e, ao mesmo tempo, os ativistas adquiriram meios mais
eficientes para eles mesmos se divulgarem. Porém, ainda é uma relação frágil e
assimétrica.
Após
a apresentação dos temas abordados nos textos, discutimos sobre o sistema do Linux,
pois hoje ele pode ser comprado, o que iria contra a lógica de sua criação. No
entanto, a venda é de algo que é feito a partir do Linux, e de seu suporte. Mesmo
assim, a primeira ideia, como apresentado no texto discutido, seria não vender.
O software livre, como observamos, tem muito a ver com a cultura contemporânea
ativista. De acordo com Drucht, seria alternativa a estratégia destes ativistas
do software livre em relação à mídia. Ao mesmo tempo, há os hackers que usam a
estratégias de ataque a partir do software livre. Questionou-se então até que
ponto as pessoas se mantém ativistas. Há alguns hackers, por exemplo, que se
unem ao mercado e ao governo para testar a segurança de sistemas.
Discutimos
então a importância das redes sociais na internet e dos blogs na constituição
de uma mídia alternativa. Lembramos do caso do Occupy Wall Street, que era deslegitimado
pela mídia. Se não houvesse Twitter, as pessoas talvez também teriam essa mesma
visão ruim. Mencionamos a produção de documentários sobre esses movimentos. Às
vezes, o cinema acaba fazendo um papel melhor que o jornalismo tradicional
nesse sentido.
Voltamos
a discussão então ao protesto contra o aumento do valor das passagens de ônibus
em Porto Alegre. Percebeu-se uma tentativa clara do jornal Zero Hora em mudar a
imagem da cobertura do protesto das passagens de ônibus a partir de
reclamações e comentários das redes sociais, o que mostra que estes sites podem
servir como influência na cobertura de movimentos para a mídia de massa.
O
texto de Drucht já falava da luta por atenção e visibilidade por parte dos
movimentos, e, conforme discutido, isto está cada vez mais gritante nas redes
sociais.